É chegada a hora de reinventar e criar novos modelos de negócios. Só para citar dois exemplos, as chamadas “dark kitchens” e os serviços de delivery têm potencial de crescer exponencialmente
Aloisio Sotero *
Publicado em 1979, com mais de 10 milhões de exemplares vendidos desde então, o livro A Escolha de Sofia, de William Styron, narra o drama de Sofia Zawistowska, uma polonesa sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz que, em determinado momento, precisou escolher entre duas alternativas igualmente dolorosas. E essa escolha definiria seu destino.
É assim que eu vejo a situação de milhões de empreendedores brasileiros que, neste momento de pandemia do coronavírus, se veem obrigados a tomar decisões sob forte pressão e que exigem sacrifícios imensos. Tais incertezas, diante de um momento grave no combate à Covid-19, criam cada vez mais dúvidas, principalmente nas pequenas e médias empresas.
É necessário criar um plano estratégico de saída
Para os Estados e municípios que decidiram prorrogar a quarentena, seria oportuno apresentar um planejamento estratégico de saída, como fez recentemente o governo de Portugal, com base nos leitos disponíveis em cada região e monitoramento diário do seu limite de ocupação. Assim como funcionam os sistemas de reservas dos hotéis na internet.
Avaliamos que, para se ter um plano de saída sustentável do isolamento social (tanto para a economia como para a saúde pública), seria necessário haver um teste clínico rápido em massa da população. Segundo o Ministério da Saúde, isso não ocorreu, até o momento, por uma série de dificuldades, inclusive pela falta de insumos para fazer tais checagens.
Varejo e pequenos negócios precisam se reinventar
Nessa situação de incertezas e imprevisibilidade, estudo recente da consultoria McKinsey Internacional aponta, entre mais de 30 países pesquisados, que o Brasil é uma das nações mais preocupadas com o impacto da crise — inclusive se comparado aos nossos vizinhos latino-americanos. Nada menos que 82% da população compartilha de um sentimento geral de insegurança e pessimismo.
Cerca de 60% dos consumidores declararam ter tido sua renda afetada, sendo que três em cada quatro já estão cortando gastos. Pensando à frente, a expectativa da maior parte dos brasileiros (60%) é que os impactos da crise nas finanças durem mais de quatro meses; 50% já estão preocupados em perder o emprego.
Com base nesse cenário, é chegada a hora de reinventar e criar novos modelos de negócios, como, por exemplo, a introdução de pontos de lockers inteligentes (armários para entrega de mercadorias compradas online), favorecendo a operação de empresas de delivery, e instituir vales digitais para compras online em lojas de shopping centers.
Os chamados “locker points” operam de forma exitosa em Portugal, antes mesmo do coronavírus, devido à ausência de portarias na maioria dos prédios residenciais. E já existem empresas especializadas na gestão dos sistemas consolidadores de entrega dos diversos lojistas de shopping centers, os chamados “In-mall Consolidation Centers”, que transformam shoppings em deliveries de verdade, sem o tráfego direto nas lojas.
O digital abre oportunidades para diferentes negócios
Uma outra forma de trilhar o caminho da reinvenção dos negócios é estimular os Social Sellers (vendedores por meio de mídias sociais), como no clássico modelo de vendas diretas via catálogo, agora transformados em catálogos digitais — modelo pioneiro no Brasil nas clássicas vendas porta a porta de Avon e Natura.
Ao lado disso, temos os smartphones como “portas digitais”, onde podemos bater com um simples clique! Nos Estados Unidos, os modelos exitosos de catálogos da Sears desde os tempos da “corrida do ouro” e o delivery via ferrovias.
Vejo uma grande oportunidade de transformar os restaurantes em serviços de “dark kitchen”, o que seria uma revolução no mercado de food service, assim como estruturar os marketplaces de WhatsApp Commerce como minigalerias digitais ou bancas de feiras digitais.
Eis um belo desafio para os Sebraes estaduais e Fecomércios: liderarem esse movimento de transformação digital na prática, via simples aplicativos de celular, hoje abundantes nos mercados.
“Dark kitchen” sinaliza um caminho a ser seguido pelos restaurantes
A “dark kitchen”, também conhecida como “restaurante fantasma” (ou “restaurante virtual” ou, ainda, “ghost restaurant”) é um estabelecimento de serviço de alimentação que oferece apenas comida para delivery. O delivery, nesse momento, tem possibilidade de crescer de forma exponencial.
Em outras palavras, essas empresas não têm salão de mesas. É um negócio apenas de entregas e está estritamente alinhado com os novos serviços de entrega de comida online. Esses restaurantes fantasmas não têm uma loja, de modo que os clientes não podem comprar seus alimentos pessoalmente. As “dark kitchens” entregam comida diretamente aos seus clientes, muitas vezes por meio do uso de serviços de entrega terceirizados.
Um grupo de restaurantes diferentes pode operar na mesma “dark kitchen” compartilhada, com o objetivo de cozinhar alimentos puramente para delivery. Simples, fácil e rápido.
Governos devem priorizar negócios e serem transparentes
Os governos estaduais e municipais estenderam a quarentena e poderiam dar uma exemplar contribuição ao substituir a distribuição de cestas de alimentos em sacos plásticos por vales alimentação em cartões ou via smartphones, o que permitiria a compra no mercado local em pequenos comerciantes de mercadinhos, açougues, padarias, barracas de feiras livres digitais e, ainda, em pequenos hortifrutis.
Este seria um incentivo e tanto aos pequenos negócios, seguindo a máxima de que “pequenos compram de pequenos”.
Entendo que os governos, ao insistirem em realizar compras de cestas básicas em sacos plásticos, beneficiam os grandes atacadistas e estimulam aglomerações, o que pode agravar a transmissão do vírus nessas embalagens. E, num paradoxo, fecham o comércio, mas promovem aglomerações para recebimento dessas cestas básicas com produtos de marcas desconhecidas e, muitas vezes, prazos de validade próximos do vencimento.
Ao instituir uma distribuição digital, também evitaria a dúvida política sobre essas megacompras — muita vezes sem licitação, segundo recentes denúncias veiculadas na grande imprensa. Seria um choque de transparência também na gestão pública, que vive uma crise de desconfiança em suas ações.
Simples assim! Não se chega a novas descobertas com mapas antigos! Crie novos mapas. Essa é a visão que me move nesse momento!
- Aloisio Sotero é professor de Finanças Corporativas, Designer de Negócios e cofundador da Escola Baex, Educação para Executivos
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