A Humanidade e o Meio Ambiente | Ana Lúcia Carneiro Leão

Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro

(Provérbio indígena)

 

Era uma vez…
No mês que o mundo celebra o Meio Ambiente – no dia 5 de junho foi comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente – é crucial uma reflexão.

O pensar sobre a relação que perpassa as sociedades humanas e a natureza nos fará viajar um pouco na história, na filosofia, na geografia, na matemática, na antropologia, na biologia, na sociologia, na economia e, sobretudo, na formação das culturas que caracterizam a relação homem-natureza.

É consenso entre vários pensadores que os mistérios, conflitos, problemas, desastres entre as sociedades humanas e a natureza remontam desde os tempos bíblicos.

A nossa história está apenas começando…Por exemplo, algumas palavras-chaves podem traduzir e marcar a história da relação sociedade – natureza: Harmonia. Domínio e Ruptura.

A primeira a destacar é a HARMONIA – Neste período de formação das sociedades humanas, todos se relacionavam com a natureza de forma harmoniosa, caçavam, pescavam, eram interdependentes e nômades. Todos se ajudavam mutuamente, partilhando o que conseguiam caçar e colher.

A necessidade de se unirem para sobreviver fortalecia laços de confiança. A cooperação ajudava-os a construírem abrigos em menor tempo, a desenvolver táticas de caça em conjunto ou a dividir tarefas.

Quando se tornou capaz de produzir e apagar o fogo, transportá-lo e utilizá-lo, o homem diferenciou-se definitivamente dos outros animais, pois, controlava um misterioso processo natural.

Outra palavra-chave: DOMÍNIO, veio marcar uma nova fase na cultura ambiental. Vem daí as primeiras grandes clareiras, resultado do desmatamento das florestas e matas. Começa-se a armazenar e estocar alimentos. As sociedades deixam de ser nômades, e passam a se fixar em um mesmo local. Surgem as primeiras aldeias, vilas. O domínio da técnica da irrigação resultou na “domesticação” da natureza através da agricultura. É a visão antropocêntrica de mundo.

A Revolução Industrial

A Revolução Industrial marca uma nova fase na evolução da relação homem-natureza.A divisão social do trabalho contribuiu para que houvesse o processo de ruptura entre o fazer e o pensar, bem como da ruptura entre homem-natureza. A palavra chave que marca este período da revolução Industrial é RUPTURA.

Este modelo de desenvolvimento se consolida e o conceito que predomina é o uso, visão da natureza como matéria prima, fonte inesgotável de recursos e espaço de descarte de resíduos. A natureza passou a ser concebida cada vez mais como um objeto a ser possuído e dominado. A perda da identidade integrada, interdependente, harmônica do homem com a natureza, se dá a partir do modelo acumulador de desenvolvimento, mercantilista, imediatista, no qual a natureza, o meio ambiente se tornam reféns do “Homem”.

A sociedade contemporânea utiliza a ciência, a tecnologia a serviço de um modelo de desenvolvimento predatório social e ambientalmente. A urbanização desenfreada e desordenada, as monoculturas, a pecuária extensiva, o desmatamento e queimadas galopantes, a poluição de rios, lagos, lagoas e mares, a ausência de saneamento básico, o aterro de manguezais, a poluição do ar, do solo e das águas, a perda da biodiversidade, a perda da vegetação e de animais, o derramamento de óleos, produtos químicos e tóxicos no meio ambiente rural e urbano, a produção alarmante de lixo nas mais variadas origens e formas. Estes são apenas alguns problemas ambientais planetários.

A partir daí, a degradação ambiental prospera, alastra-se por todos os recantos do planeta. Aonde este modo de produção se estabelece, a degradação socioambiental vai atrás de maneira feroz e veloz.

A crise socioambiental e o modelo de desenvolvimento

As barreiras da lógica desenvolvimentista do que faz um país crescer necessita aumentar o PIB interno e, para isso, há que se explorar o capital natural a todo custo; este modelo econômico se espalhou por todo o planeta e no Brasil ele prevalece.

A utilização irracional dos recursos naturais, o desperdício de matérias-primas, de energia e de trabalho provocam, assim, a destruição do MEIO AMBIENTE, ou seja, se instala, irreversivelmente, a crise ambiental planetária. Um modelo de desenvolvimento socialmente injusto, ambientalmente degradador, predatório e economicamente insustentável.

Para se alcançar os objetivos de um novo modo de vida em sociedade precisamos de um novo agir, uma nova forma de pensar, sentir e realizar para que transformações aconteçam. Este novo olhar, esta nova mão deverá ser integrado em teia e redes.

O que fazer?

A reflexão sobre a crise ambiental contemporânea e planetária teve início no Clube de Roma em Paris – 1968, onde os chefes de Estados de 35 países se reuniram para refletir sobre o rumo do crescimento do planeta. Deste encontro surgiu o termo e a proposição do “Crescimento Zero” – Limites do crescimento. Os cientistas do Clube de Roma, liderados por Dennis Meadows, argumentam que a sociedade se confrontaria dentro de poucas décadas com os limites do seu crescimento por causa do esgotamento dos recursos naturais.

Outro fato marcante e histórico foi o lançamento do Livro “Primavera Silenciosa,” em 1962, de autoria da cientista e ecologista americana Rachel Carson. Este livro apresenta um questionamento sobre o modelo agrícola convencional adotado nos Estados Unidos e sua crescente dependência do petróleo como matriz energética.

Ao tratar do uso indiscriminado de substâncias tóxicas na agricultura, alertava para a crescente perda da qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dos produtos químicos e os efeitos dessa utilização sobre os recursos ambientais e saúde da população. Os famosos AGROTÓXICOS, ainda tão presentes na agricultura mundial.

A I Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ocorrida em Estocolmo, em 1972, foi outro marco internacional no qual se discutia a dicotomia em desenvolvimento econômico e a preservação ambiental; um não seria possível com o outro.

Em 1988, a Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, lança o Relatório Brundtland das Nações Unidas – Our Common Future, Nosso Futuro Comum. Neste livro surge pela primeira vez em escala mundial o termo Desenvolvimento Sustentável.

Desenvolvimento Sustentável significa atender as necessidades básicas e de bem-estar das atuais gerações, sem deixar de garantir os anseios e necessidades das futuras gerações.

E o mundo inteiro continua a pensar e agir sobre a Crise Ambiental Planetária…

Em 1992, no Rio de Janeiro ocorreu um evento especialíssimo das Organizações das Nações Unidas, 20 anos após a Conferência de Estocolmo. Representantes de 180 países foram ao Rio de Janeiro, para discutir e produzir documentos consensuais a respeito de como diminuir a degradação ambiental e garantir o direito das futuras gerações. O grande desafio posto aos líderes de todas as nações era o desenvolvimento sustentável. Pensar local e agir globalmente, sobre um modelo de desenvolvimento menos consumista, ambientalmente protegido, socialmente justo e economicamente equilibrado.

Nesta Cúpula da Terra foram firmadas as Convenções sobre a Diversidade Biológica, do Combate à Desertificação, das Mudanças Climáticas, a Declaração dos Princípios sobre Florestas, a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21 Global.

Em paralelo às convenções governamentais, as Organizações Não Governamentais e movimentos sociais dos mais diferentes recantos do Planeta Terra reuniram-se no Aterro do Flamengo – Fórum Global – produzindo o que conhecemos como Carta da Terra e diversos Tratados, dentre os quais se destacou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.

Durante a Rio + 20 verificou-se que a incorporação do marco ecológico nas decisões econômicas e sociopolíticas tem na construção do conceito de desenvolvimento sustentável um referencial que assume visibilidade. O mundo prossegue a busca pela saúde planetária no Século XXI. As conferências da ONU, o Acordo de Paris, os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre as mudanças climáticas) , a Rio + 20 dentre tantos e tantos encontros sobre as consequências deste modo de crescimento e o agravamento da qualidade do meio ambiente onde vivemos.

No entanto, na prática, os avanços foram muito aquém do que o planeta, a natureza, o meio ambiente necessitam e daquilo que os povos do mundo inteiro clamam por tornar real. Os desastres se alastram, enchentes, alagamentos, desertificação, tempestades, desabamentos e destruição passam a ser cenas de tragédias anunciadas.

Como fazer diferente e quando começar a fazer e pensar diferente

Ao refletirmos em COMO FAZER O DIFERENTE, temos que nos reportar aos princípios, diretrizes e fundamentos da Educação para a Sustentabilidade. Este é o caminho da transformação de um modelo de desenvolvimento predatório, socialmente injusto e economicamente insustentável para um modelo de desenvolvimento inclusivo, criativo e sustentável pautado nos pilares ambiental, social e econômico.

A forma como a iniciativa privada o mundo corporativo e industrial, a sociedade se apropria dos recursos naturais são os fatores determinantes do estado atual dos recursos naturais e da qualidade de vida na nossa casa, no nosso bairro, na nossa cidade, no Brasil e no mundo. O que fizermos à natureza estaremos fazendo a todos nós.

Na natureza, no meio ambiente, tudo está interligado!

 

*Ana Lúcia Carneiro Leão é bióloga formada na UFRPE, com especialização em Educação Ambiental na UNB e mestrado em Ciências Ambientais na Universidade de Strathclyde, na Escócia.

Email: analucialeao@gmail.com

 

 

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3 thoughts on “A Humanidade e o Meio Ambiente | Ana Lúcia Carneiro Leão

  1. Maria Adélia Borstelmann de Oliveira 9 de junho de 2022 at 12:34

    Excelente resumo através do caminho humano que trilhou a HARMONIA, o DOMÍNIO e a RUPTURA. Queria ter a esperança que suas palavras carregam. Como fazer todos entenderem que a Educação poderá nos salvar?

    Responder
    1. Luciana Leão 29 de junho de 2022 at 08:27

      Obrigada Delinha. Vamos a luta sempre. Estamos por aqui, à disposição se quiseres colaborar com artigos, ideias.
      Abraço
      Luciana

      Responder
  2. Meio Ambiente e Saneamento: Rupturas reais do que deve ser juntos e misturados | Ana Lúcia Carneiro Leão - Escritório de Jornalismo 15 de julho de 2022 at 06:29

    […] Leia mais sobre o tema: https://escritoriodejornalismo.com.br/a-humanidade-e-o-meio-ambiente/ […]

    Responder

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