O Nordeste invade a passarela no Rio e SP

 

Cada canto do país, em todas as regiões, guarda em si uma riqueza cultural que, em grande ou pequena escala, influencia todos os brasileiros.

Os desfiles das escolas de samba, no Rio de Janeiro, são uma vitrine ampla, que chega a milhões de pessoas e pode levar esses pedacinhos de cultura a lugares distantes.

Este ano, a Imperatriz Leopoldinense chega à Sapucaí com uma dessas pérolas: “O Aperreio do Cabra que o Excomungado tratou com Má-Querença e o Santíssimo não deu guarida”. Inspirado na literatura de cordel, o samba-enredo conta a história de Lampião, o rei do cangaço.

Interpretando o enredo

De acordo com a supervisora editorial da Conquista Solução Educacional, Sue Ellen Halmenschlager, essa é uma oportunidade para divulgar ainda mais as tradições e costumes nordestinos.

“A ignorância é a morada do medo e dos preconceitos. Colocar luz em temas como esse, apoiando-se em pesquisas profundas, como fazem as escolas de samba cariocas, ajuda a construir uma cultura de apreciação, respeito e reconhecimento de expressões artísticas tão legítimas”, destaca.

Mocidade fala sobre Mestre Vitalino e artistas do Alto do Moura

Nascido em 1909, Vitalino Pereira dos Santos – mais conhecido como Mestre Vitalino – nunca deixou seu Alto do Moura, bairro de Caruaru, em Pernambuco. Lá, fez história como um dos maiores artistas plásticos do Brasil até seu falecimento, em 1963.

Com peças em acervos de importantes museus pelo mundo, como o Louvre, em Paris, Mestre Vitalino ganha vida na Marquês de Sapucaí para brilhar no Carnaval 2023 da Mocidade Independente de Padre Miguel, no Rio de Janeiro.

“Terra de meu Céu, Estrelas de meu Chão” é o título do samba-enredo escolhido pela Mocidade para apresentar na avenida a vida e a obra do pernambucano. De acordo com a assessora de Arte do Sistema Positivo de Ensino, Karoline Barreto, Vitalino influenciou gerações.

 “As soluções plásticas encontradas por ele para representar as cenas cotidianas do interior pernambucano, como os olhos esbugalhados de pessoas e animais, vestimentas cangaceiras e motivos simples, são procuradas até hoje por quem visita o Alto do Moura, na região de Caruaru, onde a casa de Mestre Vitalino foi transformada em museu, administrado por um dos filhos do artista”, detalha.

A cultura “vitalina’

Antes dele, o ofício de utilizar a argila das margens do Rio Ipojuca para fabricar peças em cerâmica era uma atividade exclusivamente feminina. Isso mudou com a expansão das festas de São João e a cultura “vitalina”. Muitos são os discípulos que aprenderam com ele a arte de trabalhar a argila e fizeram disso, profissão.

O mais conhecido deles é Manuel Eudócio, patrimônio vivo da região. Ele conta que seu Mestre Vitalino não se preocupava com a imitação de sua obra, querendo mesmo que cada dia mais artesãos tirassem seu sustento do barro.

“Entretanto, como um excelente artista, Manuel Eudócio e muitos outros representantes do Alto do Moura encontraram seu estilo e cada um marca a argila à sua maneira, multiplicando o legado de Mestre Vitalino”, explica Karoline.

Obra ganhou o mundo

Convidado pelo artista plástico Augusto Rodrigues a expor suas peças na Exposição de Cerâmica Popular Pernambucana, em 1947, no Rio de Janeiro, Vitalino ganhou o mundo. Expôs no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e na Suíça, e começou a ter o trabalho adquirido por grandes museus, o que o colocou definitivamente no mapa da arte brasileira.

“Além da importância econômica da arte figurativa caruaruense, o Mestre autodidata abriu novas possibilidades para a diversidade cultural do Nordeste, com uma forma de arte popular que divide abrigo com obras clássicas em acervos importantes”, destaca Karoline.

Em SP, Mancha Verde traz cultura cangaceira para carnaval do Anhembi

O Xaxado será o tema do samba- enredo da Mancha Verde em SP/ Divulgação

“Óia eu aqui de novo, xaxando!”, cantava Luiz Gonzaga, logo nos versos de abertura de um de seus maiores clássicos.

Ritmo que deu origem ao baião, o xaxado transpira a cultura cangaceira e, em 2023, é o tema do carnaval da atual campeã da folia em São Paulo, a Mancha Verde. “Oxente – Sou Xaxado, Sou Nordeste, Sou Brasil” é o título do samba-enredo da escola.

De acordo com a assessora de Arte do Sistema Positivo de Ensino, Karoline Barreto, o tema escolhido segue uma tradição carnavalesca: a de falar sobre patrimônios materiais e imateriais do Brasil, apresentando um ciclo de reverência a muitos aspectos culturais carregados de simbolismos.

“Na sala de aula, costumamos tratar de conteúdos relacionados ao cangaço, ao forró, aos alimentos e fatos históricos da cultura nordestina. Na arte, privilegiamos o cordel, por exemplo. Mas a dança pode ser uma excelente forma de usar a linguagem corporal para vivenciar uma aprendizagem mais ativa e significativa”, explica.

Origem do xaxado

No caso do xaxado, muitas são as versões a respeito de sua origem. A mais famosa delas conta que esse é um tipo de dança de comemoração das batalhas travadas pelos cangaceiros no sertão do Nordeste brasileiro.

Praticada apenas pelos homens, a melodia era marcada pelo som das alpercatas em atrito com a terra batida: xá-xá-xá. Como toda boa manifestação cultural, o xaxado extrapolou o cangaço e, quando este chegou ao fim, o ritmo seguiu firme.

O xaxado é alegre, vibrante e com pisadas fortes. Suas vestimentas em apresentações tradicionais são compostas de alpercatas, roupas cáqui, o tradicional chapéu de Lampião e um objeto que aparenta ser um rifle de cangaceiro.

Segundo o próprio Luiz Gonzaga, grande pesquisador e divulgador do xaxado, na época do cangaço, “o rifle era a dama da dança, permitida somente para os homens”, detalha Karoline.

Samba-enredo

No carnaval 2023 da Mancha Verde, o samba-enredo fala sobre vários desses detalhes históricos envolvidos no nascimento e na manutenção do xaxado como parte fundamental da cultura, principalmente de Pernambuco.

Um trecho da letra diz “O cangaceiro, na batalha triunfou/ Até Maria Bonita no bando comemorou/ “Olê, muié rendeira”/ Na embolada dançando a noite inteira/ Vem violeiro, num repente ajeitado/ To “arretado”, a zabumba tá chamando”.

Para a especialista, esse tipo de referência é indispensável para construir, na escola e na sociedade, um repertório cultural amplo. “Falar sobre manifestações como o xaxado permite que todos nós possamos desenvolver o respeito à diversidade de culturas e valorização das tradições para conhecer a si mesmo e aos outros”, finaliza.

 

* Com informações da Central Press

 

 

 

 

 

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Luciana Leão

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