A celebração da Páscoa é uma prática marcante das religiões judaica e cristã. Existem muitas semelhanças entre os símbolos e significados destas duas festividades. É interessante saber que a Páscoa cristã teve início justamente em um dia de Páscoa em Jerusalém. Jesus Cristo e seus discípulos organizaram a ceia pascal na casa de um homem, do qual não sabemos o nome.
A Páscoa cristã, última ceia

Jesus Cristo nasceu em Belém como parte de uma família judaica que seguia as tradições de sua religião. Como muitos judeus da época, eles faziam peregrinações anuais a Jerusalém para celebrar a Páscoa, uma das principais festas judaicas. Foi durante a última Páscoa de Jesus antes de sua morte que Ele instituiu a Ceia do Senhor, também conhecida como a Última Ceia, que se tornou um dos principais ritos do cristianismo.
Nessa ocasião, Jesus ofereceu aos seus discípulos pão e vinho, que Ele declarou serem seu corpo e seu sangue, respectivamente. Com esse gesto, Jesus antecipou o sacrifício que faria na cruz, onde seu corpo seria torturado e morto e seu sangue seria derramado. Jesus Cristo é considerado o Cordeiro de Deus, ou o Cordeiro Pascal nas escrituras sagradas. Assim, a Páscoa cristã celebra a libertação da escravidão do pecado e da morte pela graça de Deus, simbolizada pelo sacrifício do Cordeiro Imaculado, Jesus Cristo.
O sangue do cordeiro sem manchas também foi o sinal para que o anjo da morte, na terrível noite ocorrida mais de 1.300 anos antes, no Egito. Pelas portas marcadas com sangue o anjo passou por cima, isto é, não entrou. Este é o significado original da palavra hebraica Pessach.
Poucos dias depois da tragédia o faraó libertou os hebreus. Daí em diante, anualmente, do 14º ao 21º dia do mês de Nisã, os judeus celebram a festa da libertação e da redenção. Convergem, portanto, judeus e cristãos, nos símbolos e significados principais da Páscoa – o cordeiro sacrificado e o seu sangue.
Convergência nos outros símbolos e significados
No Egito, Deus julgou e condenou faraó pela escravização dos hebreus. A justiça de Deus é um mistério para os homens, e muitas vezes está encoberta para a razão humana. Para lembrar disso, os judeus realizam na Páscoa o rito de esconder parte dos pães asmos e colocam as crianças para procurar. Quem encontra recebe um prêmio.
O julgamento de Jesus também é lembrado nos ritos da Páscoa cristã, durante a via sacra. Nesse percurso de 14 estações toda tortura a que foi submetido e sua morte na cruz também lembram de certa forma a dor dos hebreus enquanto escravos, e a opressão que representa o domínio do pecado sobre os homens.
As ervas amargas, em nosso meio muito comum o uso do bredo, também cumprem este papel na simbologia pascal.
Tanto na festa judaica como na cristã as velas acesas representam a iluminação provida por Deus para a escuridão dos primeiros passos na nova vida.
As vestes dos sacerdotes trazem nas cores seu significado mais marcante – as brancas sinalizam para a pureza e inocência do cordeiro sacrificado e as vermelhas lembram o sangue derramado e purificador.
Além disso, a Quaresma, período de quarenta dias que antecedem a Páscoa, e os preparativos para a Páscoa na celebração judaica são símbolos da a purificação e renovação espiritual manifestados através da prática do jejum e das boas obras.
A Páscoa foi cumprida na pessoa de Jesus Cristo
O que é certo é que Jesus reinterpretou e ressignificou a Páscoa dos judeus baseado na sua própria experiência e na obediência à missão recebida do Pai. A Páscoa passou a ser encarada como um mandamento que foi cumprido em Jesus Cristo e que adquiriu maior significado na pessoa de Jesus Cristo.
Para os cristãos todo domingo é dia de celebrar a obra e vida de Jesus Cristo, todo domingo é dia de rememorar sua morte e ressurreição, portanto, todo domingo é de Páscoa, e a Páscoa deve se renovar todos os dias em que a vida amanhece com uma mensagem de fé e esperança.
*José Carneiro Leão é médico-pediatra e professor de Medicina da Universidade de Pernambuco (UPE). Estudante do Seminário Teológico Episcopal Carismático, SETEC-Recife.